Inspirada em um conto chamado CHAIN HOME, LOW de John M. Ford
O Mundo Bruxo de Witch Cross
A cidade de Witch Cross fica no condado de Sussex, a meio caminho de Londres e do Canal. Witch se refere a bruxas, obviamente, embora muitos moradores menos crédulos acreditem que se trate de uma corruptela de Wych, e que o nome se refira aos olmos que cercam a cidade.
Há também lanchonetes, correio, um bar e uma pequena igreja no centro da praça, onde os moradores se encontravam e ocasionalmente se cumprimentam.
Ao lado da Igreja fica um cemitério em cuja entrada existe um velho portão de ferro trabalhado com figuras de grifos. As lápides são em sua maioria tão antigas que mal se consegue ler os nomes gravados nas pedras desgastadas pelo tempo.
A cidade nunca foi grande e só foi mencionada no exaustivo Buildings of England (Edifícios da Inglaterra), de sir Nikolaus Pevsner, por causa da mansão que fica próxima do povoado. A casa, chamada de Solar Nigellus, foi fundada no final do século XVI para ser a residência da magistratura local, a uma distância confortável do tribunal de Wragby.
O Solar Nigellus foi reconstruído com frequência, de modo que, até o século XX, era apenas uma excentricidade arquitetônica.
Nos domínios da mansão estava o único ponto de interesse por Witch Cross, uma faixa elevada de terra, de quase três metros de altura e dezoito de extensão. Era conhecida como Wych Dyke, e dizia-se que era uma proteção contra a artilharia romana, druida, ou dos puritanos ingleses.
Em 19O4, o Solar Nigellus foi comprado por um homem que se chamava Aramis Mehflua Burgess. Seu nome original, seu passado e a fonte de sua riqueza eram desconhecidos, embora ele se comportasse como um aristocrata e seus cheques sempre tivessem fundos.
Burgess acrescentou algumas coisas à casa: externamente, ele acrescentou ornamentos góticos em ferro, gárgulas que vomitavam chuva, dragões retorcidos ao longo da aresta, cujo ferro representava em escala pássaros intimidados.
As alterações no interior foram feita s por uma empresa do continente, homens silenciosos, sombrios estranhos. Que apareciam e desapareciam de modo misterioso.
Havia uma grande área isolada em torno de Witch Cross: o que quer qu e os mapas mostrassem, era bem distante de qualquer lugar. Por isso, levou alguns anos até que o primeiro escândalo explodisse, e aconteceu em Londres, com uma batida policial numa casa perto da estação Kings Cross. Vários membros da Ordem dos Mistérios Antigos, de Burgess, todos provindos da nata da sociedade, estavam envolvidos, assim como uma mulher morta. Os jornais exploraram o fato por dias.
Burgess voltou para Witch Cross. Aquele escândalo, e os que se segu iram, não o perturbavam.
Burgess se dizia um mago, um feiticeiro de poderes infinitamente vastos. As pessoas em Londres riam disso. Mas não em Witch Cross, todos sabiam que naquela cidade havia algo censurável e deliciosamente vago.
Da segunda metade do século em diante, Roderick Burgess foi aprisionado de forma permanente a uma batalha por fama e por seguidores, junto com Grimmauld Crowley e com um habitante da Cornualha conhecido como Kreacher.
Essa batalha era um duelo de bruxos que tomava forma quase sempre em jornais de circulação estritamente limitada.
Era sabido que Kreacher era o mais urbano e de longe o mais simpático; Grimmauld Crowley, o mais volúvel e espetacularmente degenerado; Burgess, o mais filosófico e cruel. Mesmo os menos crédulos moradores da cidade se deliciavam em acompanhar as desavenças entre os supostos bruxos.
Kreacher morreu aparentemente de problemas no coração. Faltava a Burgess o senso de humor bizarro (ou de qualquer outra espécie) de Crowley e, finalmente, ele perdeu o gosto pela fama. Não foi visto fora do Solar Nigellus depois disso, embora houvesse um fluxo contínuo de visitantes em Rolls Royces, Bentleys e às vezes em aviões; além é claro dos outros que chegavam ninguém sabia ao certo de onde ou como.
Diziam que Burgess mantinha um demônio no porão do Solar Nigellus. Diziam que ele havia feito um trato com a escuridão e que não podia morrer. Diziam que ele tinha alcançado aquela curiosa condição dos velhos ricos, de poder pagar por qualquer prazer e não apreciar nenhum deles.
Não se sabe ao certo como, quando e se ele morreu. Nunca mais foi visto fora do solar que permaneceu vazio até agora. Entretanto, a quem jure que o velho Burguess morreu em Azkaban, uma prisão bruxa situada numa ilha ao norte da Inglaterra. Há vários rumores, também de que depois da batalha travada com Crowley e Kreacher, ele passaou a se observado de perto, tanto pelos bonzinhos, quanto os vilões. De que lado ele estava? Bom, isso é uma pergunta que pode virar lenda. Dizem as más linguas da cidade que ele guardava muitos segredos consigo, que possuía uma enorme riqueza enterrada em um ponto distante da América, e que ainda era casado.
Tolices ou não, o fato é que depois de oficializada sua morte, uma nova leva de visitantes silenciosos, sombrios e estranhos, tem incendiado a imaginação dos moradores da pequena cidade. Muitos aparaecem e desaparecem do nada, outros chegam de mansinho, se instalam e passam a fazer parte da cidade. Esse é o caso do boticário, Dr. Lovett, que chegou do nada, mas se mostrou hábil em medicar cada cidadão com uma facilidade e pretesa absurda, tornndo-se peça fundamental desse quebra-cabeça. E o que não dizer da simpática Sra. Marple, que com seu sorriso cativante e os cabelos brancos em cachinhos, não nos remete a nossa infância com toda a variedade de quitutes que nos enche os olhos em sua pensão?
Há ainda o filho do carteiro, que recebe estranhas correspondências em pergaminhos e com sinetes dourados em forma de águia, aliado ao fato de que usa roupas escuras como a noite em pleno dia. Os belo par de olhos azuis da Srta. Stacy, filha do não menos renomado padeira da cidade, viúvo há muitos anos, ele só tem olhos para a menina, mas ela... Bom, isso é uma história sobre a qual todos teremos chance de averiguar. Existe a prefeitura da cidade, que na opnião de muitos agrega o maior número de tipos suspeitos, mas o que definitivamente nos chama a atenção, foi o númreo recente de pesoas que chegaram a cidade vinda de várias partes do mundo, e todas, sem exceção, relacionadas ao velho Burguess. Um filho bastardo vindo dos Estados Unidos, um amigo que lutou ao seu lado nas Índias, uma mulher misteriosa com um forte sotaque polonês que se diz sua esposa, um jornalista vindo do Brasil que se diz interessado na fama adquirida pelo velho ao redor do mundo para fazer uma autobiografia, uma velha senhora que está sempre esquecendo suas agulhas de crochet em algum lugar ao qual deseja retornar e tem idade para ser a irmã do falecido. E para coroar todos estes fatos estranhos que acontecem na mística Witch Cross, um estranho portando um longa capa preta vem se esgueirando a noite pelas vielas da cidade. Quem é ele? O que pretende? Ah, meu bom amigo, isso já não posso lhe reponder. Pode ser qualquer um de nós, eu ou você... Entretanto, se você conhece os fatos como eu, sabe bem do que se trata, afinal não somos trouxas... Somos?